Mestre, escritor, pioneiro da educação.
Marcelino José das Neves
A ACL rende homenagem ao grande caetiteense.
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DADOS BIOGRÁFICOS
Leia também RELEASE DA OBRA:
Lavras Diamantinas
Íntegra do discurso como Paraninfo da Primeira Escola Normal de Caetité , dezembro de 1901
Marcelino José das Neves
Marcelino José das Neves foi o quinto filho, e o caçula, do casal formado pelo português Marcelino Neves e D. Maria Theodolina Veiga, nascido aos 12 de agosto de 1841. Patrono da Cadeira 34 da Academia Caetiteense de Letras, traremos aqui um resumo de sua biografia.
Transcrevemos agora o relato de sua neta, Marieta Lobão Gumes (in Caetité e o Clã dos Neves):
  
"Por motivos ignorados e injustificados, esse 'maroto" senhor Marcelino Neves abandonou a família - mulher e 5 filhos menores, não mais aparecendo senão muito mais tarde, quando toda a família estava criada graças aos esforços conjugados da velha Maria Theodolina e dos filhos que criara honestamente, inculcando-os ao cumprimento do dever e da honra.
   _Fato curioso e que, por si só, nos dá uma idéia do caráter, da intransigência e da dignidade acrisolados no coração da velha matrona Maria Theodolina: Não se opondo a que, muitos anos mais tarde, o filho Marcelino fosse em busca do velho, gasto, doente e desiludido, não consentiu, entretanto, em vê-lo. -Para ela ele já havia morrido desde que a abandonara com os seus 5 filhos menores!- E, desse modo, nunca consentiu em vê-lo, nunca mais.
   _Dizem que o velho entranhara-se para as bandas de Macaúbas e lá constituíra nova e numerosa família de bastardos que não tiveram  por ele o amor e o carinho que, certamente,  receberia dos filhos legítimos. É a tal história...
   O meu avô Marcelino José das Neves e seus irmãos receberam sua primeira instrução, as noções elementares de sua mãe que se esforçara para que todos os filhos (5) recebessem a educação necessária, cursando, inclusive, a 'Escola Régia de Latim' e outras matérias, para que se aprimorassem os seus conhecimentos. O Marcelino, por ser o mais moço, cursara a Escola de seu cunhado, o Prof. João Antônio dos Santos Gumes, casado com a sua irmã mais velha, ANNA LUIZA NEVES GUMES.
   (...) Nesse ínterim, casa-se a irmã de Marcelino Neves - a Felismina, com o rico comerciante Aprígio Leão, proprietário de uma casa comercial em Lençóis e que se interessando pelo jovem Marcelino, levou-o como auxiliar, propiciando-lhe a oportunidade de conhecer a famosa 'Cidade do Diamante', o Eldorado de mil castas e que para ali acorriam, de todas as partes do país, para desenterrar as mais preciosas gemas, o mais puro diamante, o raríssimo carbonato, transformando de uma noite para o dia, como em contos de fadas, pobres em milionários.
   O meu avô, naquele tempo, um guapo rapaz no verdor de seus vinte e poucos anos, não podia deixar de se impressionar com aquele espetáculo insólito, com aquele fenômeno social, cuja influência se refletiria, de maneira fulminante, no comportamento da novel e heterogênea sociedade que ali se estruturava, com todas as implicações que a fortuna imprevista acarreta, - cupidez, rivalidades, luxo nababesco, determinando um crescimento desordenado e incontrolável e do qual hoje ainda temos notícias e cujos remanescentes atestam aquele movimento que envolveu milhares de indivíduos e que dilacerou as mais recônditas entranhas da Chapada Diamantina."
Foi deste período que Marcelino colheu os elementos para  seu espetacular romance 'Lavras Diamantinas', único de seus escritos que teve publicação, mesmo postumamente, revelando o gênio deste caetiteense que esbanjava estilo, cultura e leveza na descrição do drama vivido anonimamente pelos garimpeiros que no século XIX mergulhavam no sertão em busca da fortuna." (veja o release)
Muitas foram as peregrinações de Marcelino, como professor: no arraial do Mocambo (atual Candiba), no Gentio (hoje sob as águas da barragem de Ceraíma, no Município de Guanambi) e outros locais. Neste período, conforme registra a Profª Helena Lima, escreve o drama "O Designado", sobre a Guerra do Paraguai, encenado a primeira vez no 2 de julho de 1858, e escreveu os seus romances, além do já citado, "A Mulher do Xale Preto", "Naninha" e outro que não terminou.
Desta autora transcrevemos o seguinte relato:
  Em 1880, a convite do dr. Joaquim Manoel Rodrigues Lima, foi a Salvador, onde se submeteu a um concurso para o magistério, tendo por concorrente Cornélio Carneiro Ribeiro, irmão do ilustre filólogo Ernesto Carneiro Ribeiro e a despeito do prestígio e competência do seu opositor, conquistou com brilho uma cadeira vitalícia no magistério baiano.
   Nomeado efetivo de Duas Barras, tomou posse no ano seguinte e aí ficou por 15 anos, cercado pela estima e consideração de toda a população, mantendo por mais de dez anos um internato masculino; estava feliz, tanto mais que aí nasceram seus filhos, quando já pensava que não teria descendência.
   Em 1895, porém, por ocasião da reforma do ensino organizada no governo Rodrigues Lima, o Governador, que era seu amigo e certo de sua competência e merecimento, nomeou-o Delegado Escolar da vasta circunscrição que tinha sede em Caetité.
   Aceitou prazerosamente, não só pelo cargo, mas também pela oportunidade de vir morar em sua terra. Exerceu o cargo por dois anos, deixando-o por ter sido nomeado Lente de Pedagogia na Escola Normal, então criada.
   Como professor desta matéria escreveu uma Pedagogia para uso de suas alunas, que lutavam com falta de compêndios; foi paraninfo da primeira turma¹ e também exerceu o cargo de Vice-Diretor.
   Extinta a Escola em fins de 1903, ficou em disponibilidade, até que aceitou a regência da Escola Complementar de Minas de Rio de Contas, onde permaneceu durante sete anos, mantendo um internato para rapazes, muito procurado e quando a Escola foi extinta, em 1912, voltou a residir, definitivamente, em Caetité.
   Conseguiu aposentar-se no ano seguinte
(Marieta Lobão Gumes consigna: "O meu avô, Prof. Marcelino Neves, ainda permaneceria no Rio de Contas por alguns anos, só regressando definitivamente a Caetité depois de ter providenciado a sua aposentadoria, providências essas que o obrigariam a ir à Capital, para que se efetivasse esse direito que o trabalho, exercido por mais de trinta anos, lhe assegurava"), mas seu organismo estava combalido por antigos sofrimentos e ferido ainda, em seu coração, pelo falecimento de sua filha Naninha - Ana Luiza - Esta última fase da sua vida foi a mais fecunda, escrevendo artigos não só para A Pena, mas também para outros periódicos da região. "O Cinzel", de Rio de Contas, "O Jacaraci", "A Evolução", da cidade.
   Faleceu em 1918, vítima da gripe espanhola.
   De sua autoria são os versos do Hino de Caetité², cantado até o presente, com música de Hilarião Cerqueira, cuja primeira estrofe começa assim:
     
Caetité do sertão és princesa
        De cultura és cidade ideal
        Nestas plagas de tanta beleza
        Caetité estás só sem rival.
    
        Salve, salve, Caetité!


   Os filhos:
   Maria Teodolina - professora, viúva de Misael Pinheiro Lobão, 5 filhos.
   João Batista - farmacêutico, morreu solteiro, na epidemia de gripe espanhola, quase ao mesmo tempo que o pai.
   Ana Luiza - casada com Raul Ataíde, funcionário das Obras Contra a Seca. Extinta esta circunscrição do alto sertão, foi transferido para Juazeiro. Ambos faleceram cedo, ela primeiro, deixando 2 filhos.
   Joana - morreu criança.
   Antônio Marcelino - Casado com Dulcina Morais Neves, 6 filhos.

Notas:
¹ Veja em anexo o
Discurso na íntegra.
² O atual Hino de Caetité é de autoria da Profª Emiliana Nogueira Pita.
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