Certamente por isto a Biblioteca Municipal de Caetité é uma premiada, por possuir um destes raros volumes, presenteado pelo Autor em 25 de junho de 1973.

   O Camillo das "muitas mulheres", cantadas ao longo da vida, cede espaço para uma extensa declaração de amor à companheira de uma jornada que se fez pontilhada de escolhos, como a recente prisão pelo regime militar. A ela declara, na dedicatória: "
nossa vida não tem sido um mar de rosas, tem sido mais uma estrada de espinhos. Não importa. Os que levaram Jesus ao suplício não teceram para sua fronte uma coroa de rosas. Fizeram-na de espinhos. E nem por isso o venceram" .

  
E adverte aos leitores: "Para os outros, os versos que reúno neste livro de nada podem valer; para nós dois, entretanto, eles são assim como o bimbalhar de um sino, largado aos ventos de uma tarde de ouro e sol, em convite sonoro para a missa da saudade."

   Dividido em 3 partes (Cantiga de Namorado, Canção de Noivo e Oração de Esposo), eis um exemplo dos versos ali contidos:
Camillo de Jesus Lima
Livro publicado pelo poeta em 1973, é sua última obra editada, antes de morrer, e é dedicado à esposa, Maria José dos Santos Lima, a quem cognominava "Miriam".  "A edição deste livro, fora de mercado, é, apenas de 200 exemplares" - informa, no início da obra.
Release
CAMILLO DE JESUS LIMA:
O LIVRO DE MIRIAM
Academia Caetiteense de Letras - Caetité - Bahia - 2003
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  O soneto seguinte mostra um poeta que dominava as formas clássicas da métrica e rima, sem contudo deixar de transmitir uma mensagem plena de sentimentos. A poesia anterior foi uma "cantiga de namorado", a seguinte é uma "canção de noivo":
Ausência
Trago nas minhas mãos ainda o calor
Das tuas mãos de rosa, meu amor.

         Trago, ainda, nos refolhos
         Da alma o encanto que vem do brilho dos teus olhos

Nos meus ouvidos ainda balbucia
Tua voz de seda, de veludo, de poesia.

         Vieste comigo. Estás comigo. Estás aqui.
         Moras dentro de mim. Circulas no meu sangue.
         Vives nesse cismar dúlcido e langue
         Que vem de ti.

E eu que te quero tanto, eu, que vivo a sonhar,
Da sala no silêncio quieto e mudo,
Meu poema de alma e corpo esparso no ar,
Vejo-te em tudo, amo-te em tudo, beijo-te em tudo...

                                                          1936
Versos da Jornada Feliz
Este há de vir comigo em meu caminho,
Para tornar mais suave esta jornada,
Assim pensou minha alma enamorada
Quando chegaste, Flor do meu caminho.

Pus minha sorte em tuas mãos de arminho
E saímos os dois na longa estrada.
Cantava a vida o hino da alvorada
Pelo bico de cada passarinho.

Mas veio a noite. Cardos cruéis cresceram
Para os pés nos ferir, mesmo onde tantas
Rosas rubras e roridas nasceram.

Amor, que importam horas tenebrosas,
Se nós, no sangue que nos cai das plantas,
Julgamos ver desabrocharem rosas?

         6 de setembro de 1939 - terceiro aniversário de noivado
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