Cezar Zama
O Tribuno
Cezar Zama
Político e escritor, Zama é Patrono da Cadeira 1  da Academia Caetiteense de Letras.
BIOGRAFIA
DOCUMENTO
Biografia de Cezar Zama que foi anexada, na "Exposição de Motivos", pelo vereador
EUDES JOSÉ DOS SANTOS ao Projeto de Lei que nomeou a Biblioteca Municipal, em 2001.
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ARISTIDES CÉSAR SPÍNOLA ZAMA
Ensaio Biográfico
            POUCOS caetiteenses tiveram tanta projeção na política nacional, nem foram tão combatidos ontem e hoje. Dono de rica biografia,  médico, escritor, deputado, professor, latinista, historiador, Zama certamente é nome que honra nossa terra, que enriquece nossa história.
            Nasceu em Caetité, aos 19/11/1837. Único filho do médico italiano César Zama, dito "de Faenza" e de D. Rita de Souza Spínola, de tradicional família e viúva.
            Seu pai foi assassinado por um escravo, quando contava apenas dois anos, num episódio que marcou a vida local, pois o assassino foi o último  a ser executado na forca que ficava na Praça da Matriz, no pelourinho.
            Acadêmico da Faculdade de Medicina da Bahia, contemporâneo do dr. Joaquim Manoel Rodrigues Lima, assim como este atende ao chamado do governo imperial ante a ameaça paraguaia, servindo como voluntário nos hospitais de sangue daquela que foi a maior guerra de nossa história.
            Ingressa na política, tornando-se Deputado Provincial. Ativo, participa dos movimentos republicanos. Proclamada esta, é um dos constituintes que elaboram a Primeira Carta Magna da República. Em 1891, com o fechamento do Congresso, rebela-se, sublevando a cidade de Salvador contra este ato violador, exigindo a renúncia do governador, que apoiara o golpe.
            Adversário político do dr. Joaquim Manoel, sempre tiveram, contudo, relação de mais alto respeito. A ponto de, quando do lançamento da primeira chapa para governador, ter escrito, em seu jornal oposicionista, fartas e elogiosas linhas em reconhecimento ao adversário. O governador, por sua vez, reconhecendo o valor da obra de Zama, elabora projeto de lei que mandava a Imprensa Oficial da Província publicar sua obra.
            Memoráveis os debates que, em pé de igualdade, quer da tribuna do Congresso, dos artigos em jornais ou mesmo em livros, travou com o monumental Rui Barbosa. Entre suas obras destacam-se "Os Grandes Oradores da Antiguidade", "Os Grandes Capitães da Antiguidade" (onde relata as vidas de Alexandre, Aníbal e César, atualmente publicada pela Biblioteca do Exército - Bibliex), e o opúsculo "Libelo Republicano - comentários sobre a campanha de Canudos", obra que é referência, ao lado de "Os Sertões" de Euclydes da Cunha, sobre a tragédia do movimento conselheirista no interior baiano.
            Literato e latinista, exerceu o magistério de latim, quando deixou a política. Continua, nesta língua, a corresponder para jornais do Rio de Janeiro. Falece em Salvador aos 20/10/1906.
            Em 1972, reconhecendo-lhe a memória, teve seu nome batizando o Fórum local, um tanto impropriamente, pois Zama não foi jurista. Com a mudança deste para o grande caetiteense Vanni Silveira, nossa terra carece de justa homenagem a este notável caetiteense, que representou nossa terra nos mais altos páramos da cultura brasileira, inda hoje citado como referencial pelos historiadores. Como literato, César Zama teve seu nome homenageado pela Academia Caetiteense de Letras, como Patrono de sua primeira cadeira. Muito apropriadamente, seu nome merece figurar, de modo permanente e indelével, na fachada de nossa Biblioteca Pública Municipal, berço de livros e conhecimento para nossa gente, e que tantos anos esteve abandonada.
         "Loucos sempre existiram e existirão: como tal sou qualificado pelos adversários... Felizmente já estou velho e não tardará que encontre no túmulo o esquecimento dos vivos..."  (César Zama).
SOBRE ESTA PÁGINA:
Tomou-se como base dos dados aqui coligidos o "Caderno de Cultura Caetiteense 3", editado pela Divisão de Cultura do Município de Caetité, no ano de 2002, sobre o qual foi procedida uma revisão, em especial no tocante à família do biografado que, segundo veio a se apurar - e contrariando algumas publicações - possuía este algumas irmãs fruto do primeiro casamento de sua mãe, e que viveram em Lençóis - Bahia.
LEIA AINDA:
Release da obra "Os Três Grandes Capitães da Antiguidade, Vol. I - Alexandre"
CEZAR ZAMA DE CAETITÉ
Nasceu em Caetité, aos 19 de novembro de 1837.Morto o pai, e sendo de família muito rica, o pequeno Aristides Cezar Spínola Zama tem na Capital a melhor educação então oferecida, certamente no Colégio Bahiano, do afamado Barão de Macaúbas, ou Pereira e São João.
De fato, foi nestas escolas que estudaram seus conterrâneos e contemporâneos: Plínio Augusto Xavier de Lima, Aristides de Souza Spínola, Joaquim Manoel Rodrigues Lima. Era uma geração de homens ímpares. Plínio de Lima e Aristides foram colegas de Castro Alves e Ruy Barbosa!
Na década de 1860 matricula-se na Faculdade de Medicina de Salvador, onde também cursa Joaquim Manoel. Estourando a Guerra do Paraguai, ambos seguem como voluntários para servir nos hospitais de sangue, quando a campanha havia se tornado mais ingente.
Retornando, completa a Faculdade, e volta para Caetité. Mas não exerce a profissão, antes ingressando na política: Plínio de Lima morreu novo, mas a via política foi logo abraçada pelos demais luminares: Joaquim Manoel e Aristides, este nomeado pelo Imperador Presidente da Província de Goiás, e depois deputado provincial. E foi como deputado que Cezar Zama se projetou.
Durante as legislaturas do Império, abraça a causa abolicionista. Em célebre embate, foi tripudiado pelo parlamentar mineiro Valadares (depois governador), por ser este escravocrata, ao ver criticada por Zama a proposta da Lei dos Sexagenários: "Vossa Excelência é médico, então certamente falacom a jurisprudência da medicina...", ironizou o escravagista um argumento de Zama, ao que este de pronto respondeu-lhe: "Não, falo com a jurisprudência do Cristo, que pregava serem todos os homens iguais"!
Presidiu, junto a outro parlamentar, a última Sessão do Parlamento no Império, e atuou como constituinte na primeira Carta Magna da República.
Exercia oposição a Joaquim Manoel Rodrigues Lima. Mas, mesmo assim, quando de sua indicação para a candidatura ao Governo do Estado, na primeira eleição a este posto da História, reconheceu o valor de seu conterrâneo. Eleito, o dr. Joaquim Manoel fez a Assembléia Estadual aprovar uma lei que obrigava a Imprensa Estadual a publicar suas obras!
Sobre esta atuação política, e mais sobre sua vida, transcreveremos o registro de Pedro Celestino da Silva:
Durante a administração do marechal Floriano Peixoto (1892-1894), a mais agitada que tem tido a República, o Dr. César Zama foi o único deputado que, na Câmara, analisou, com desassombro, os seus atos, afrontando-lhe o poder discricionário.
Mas receando qualquer violência da parte do marechal, só se apresentava na Câmara fardado, pois, tinha as honras de coronel honorário, distinção que lhe fizera o governo da República.
Não obstante essa oposição, Floriano Peixoto que tudo podia, nada fez, acatando-lhe as imunidades do cargo.
Essa atitude franca hostilidade ao poder valeu-lhe, no seu regresso à Bahia, depois do término da sessão parlamentar, a mais estrondosa manifestação popular de que foi alvo.
Finda a legislatura o Dr. César Zama não mais voltou à Câmara, guerreado pela oposição, cujos desvairamentos combateu com altiva sobrançaria.
Deixou no regime passado nomeada de tribuno arrojado, graças à extraordinária popularidade que soube conquistar, nesta terra, pela maneira superior por que se portara nas lutas políticas em que tomara parte ativa.
No regime atual, como já dissemos, representou a terra natal na Câmara Federal, sempre cercado da admiração sincera e devotamento dos seus conterrâneos.
Cultor inteligente da seleta literatura e polemista consumado, deixou na imprensa um nome feito, sobretudo nas pugnas políticas, pela concisão e lógica dos seus artigos de crítica.
A sua colaboração na imprensa é uma obra valiosa, pois constitui subsídio altamente proveitoso à história política da nossa terra.
E prossegue, adiante:
O Dr. José Gonçalves da Silva havia aplaudido o ato do marechal Deodoro da Fonseca, de 3 de Novembro de 1891, ordenando a dissolução do Congresso Nacional, o que levou a oposição a tramar a sua deposição de governador da Bahia, a que, felizmente, para as suas tradições de bravura e altivez, não cedeu; a sua resistência salvou o seu partido.
Assim, ?na manhã de 24 de Novembro, o deputado César Zama, que exercia a maior sedução sobre o ânimo popular, colocou-se à frente de cerca de três mil pessoas para exigir a renúncia do governador.
Contava esse tribuno com simpatia das forças federais e com a cumplicidade do batalhão de polícia, então comandado por um oficial do exército. O governador havia se dirigido para a Secretaria de Estado, no edifício em que também funcionava o Senado, à praça da Piedade, para tratar de sua defesa, mas as suas ordens não foram cumpridas pelo comandante da polícia que mandou fechar os portões do quartel.
Um oficial, porém, o tenente Machado, que comandava a guarda do bairro comercial, soube cumprir o seu dever. À frente de 20 soldados dirigiu-se para a chefatura de polícia, na mesma praça da Piedade, para defender a autoridade ameaçada.
Atacado pela massa insurgida, esse tenente resistiu enquanto teve munição, só abandonando o edifício quando ele começava a ser incendiado.
Desse tiroteio resultaram várias mortes e ferimentos.
Aos enviados de César Zama e dos seus companheiros, respondia o governador que não renunciaria o seu cargo; que não cederia a nenhuma imposição."
Assim, terminou o movimento sedicioso, havendo, pouco depois, o Dr. José Gonçalves apresentado a sua renúncia ao Senado Estadual, passando o governo ao seu substituto legal, Almirante Joaquim Leal Ferreira que convocou o eleitorado para eleger o novo governador.
Nos últimos anos de sua agitada existência, o Dr. Zama entregou-se ao ensino do latim, em que era provecto, como provam os seus discursos na Câmara Federal.
No Rio de Janeiro, escrevia diariamente num jornal, de cujo nome não nos recordamos no momento, interessante sessão em latim macarrônico que teve grande sucesso.
É autor dos seguintes trabalhos:
Traços biográficos e políticos dos 3 grandes oradores da antiguidade - Péricles, Demóstenes e Cícero; História dos 3 grandes capitães da antiguidade - Alexandre, Aníbal e César; Os Reis de Roma, estudos históricos; Prosadores e Poetas latinos e o Libelo Republicano- comentários sobre a campanha de Canudos, sob o pseudônimo de Wolsey.
Eis aí, em traços gerais, o passado do Dr. César Zama que, cheio de destaque, deixa aos pósteros uma fé de ofício brilhante e extraordinária de combatente e patriota.
Faleceu na cidade de Salvador da Bahia, a 20 de Outubro de 1906.
Admitir, no século XXI que o dono de tão grande obra e lapidar biografia, as confusões que se fazem em torno de seu nome, é negar a História e a Verdade. Aliás, é de Zama a profética frase que inscreveu no prefácio da edição oficial de "Os Grandes Oradores": Já estou velho, e não tardará encontre no túmulo o esquecimento dos vivos.
Entretanto, outros informes obtemos em D. Helena, sobre esta ilustre figura, que os caetiteenses têm orgulho:
Episódio da vida de César Zama, em criança, contado por Antonio Marcelino das Neves:
"Dona Rita, novamente viúva, continuou a freqüentar a melhor sociedade de então, na cidade. Numa visita que fez a uma família de suas relações, levou consigo o menino César, seu filho único. Servida a certa hora da noite, profusa mesa de chá com finas massas, em rica baixela, como era de uso entre as famílias ricas, passou o pequeno César a servir-se demasiadamente de manteiga, com modos pouco próprios de gente bem educada. Sua mãe, percebendo o caso e o tendo ao seu lado, beliscou-o discretamente, com o fim, já se vê, de fazer cessar o mau modo. Ele, porém, aborrecido com o gesto de sua mãe, disse em voz alta: _ué, mamãe, beliscando a gente por causa de manteiga?! - Hilaridade geral, vexame de Dona Rita".
Em Salvador casou-se com Hermínia Faria Rocha, irmã do General Faria Rocha.
Não tiveram filhos. Ganhou e gastou muito dinheiro, vivia com grande aparato, com mesa farta e variada, sempre servida com requinte e para a qual admitia quem estivesse presente para as refeições, não importando posição social ou cor. Era um belo tipo de homem, alto, muito corado.
Residia na praça da Piedade, no correr da igreja, onde é hoje a Secretaria de Segurança Pública. Não clinicava.
Sua fortuna foi para um sobrinho de sua mulher, Cândido Leão, depois da morte de Hermínia.
D. Helena Santos cita Pedro Celestino: "Historiador, era não só erudito como tinha intuição do passado". Hoje, infelizmente, esta intuição parece falhar. Zama foi, sim, um dos maiores caetiteenses de todos os tempos! Batia-se, na oratória, e com maior sucesso, com o imortal Ruy Barbosa (este sim, no Senado), e dentre as obras do Águia de Haia, encontramos uma "Resposta a Cezar Zama"...
Seus opositores tentaram sempre denegrir-lhe a imagem. Daí o dizerem ser ele um jogador inveterado - aspecto que Ruy Barbosa, segundo contam, atribui-lhe como destinatário de seu discurso sobre "O Jogador".
Acreditamos, então, ser hora de trazer a lume estas palavras de Zama, na biografia de Alexandre:
"quem, como nós, porém, escreve, não uma apologia, mas a história real de um homem, é obrigado a dizer aquilo que em sua convicção é a verdade, luz sempiterna e divina, que todos devem procurar ver."
A verdade... luz sempiterna e divina. Ah, Zama, quem nos dera todos a procurassem. Teriam sobretudo descoberto seus ensinos morais, como neste mesmo livro, ainda hoje reeditado, passagens como esta:
"Bella matribus detestada! Flagelo horrível da humanidade, que a civilização moderna ainda não conseguiu extirpar, maldita guerra! Que chega até a inverter a ordem e as leis da natureza!"
Ou ainda referindo-se a um castigo imposto pelo general macedônio aos descendentes de uma família de gregos: "Não se compreendem excessos tais, nem contra os pobres naturais daquela cidade, nem contra os descendentes da família grega, os quais não podiam nem deviam ser punidos pelos crimes de seus antepassados." Não parece atual? Não se assemelha àqueles que confundem o crime do pai e o imputam ao filho?...
Encerramos com outras citações sobre Cezar Zama:
"A sua vida tem muita coisa de exemplo salutar à geração de moços que lhe devem imitar a altivez de caráter. (...) Evocar-lhe o nome é render homenagem ao seu civismo e aos seus ideais patrióticos." (Pedro Celestino da Silva)
"Como primeiros representantes descendentes desta seleção de espíritos cultos que faria de Caetité um lugar de vida tradicional respeitada, poderemos citar, em traços ligeiros, alguns dos ilustres cidadãos, verdadeiros paradigmas da cultura e do poder e que dariam à cidade natal ou adotiva, esses foros de civilidade que a tornam, reconhecidamente, ímpar entre outras e onde desejamos situar a história de nossos antepassados, dos quais, muitos membros fariam parte da constelação de homens ilustrados, probos e que valorizariam a sua terra. ARISTIDES CEZAR SPÍNOLA ZAMA... " (Marieta Lobão Gumes - Cezar Zama é o primeiro biografado por ela)
"Como já me havia referido antes, Caetité orgulhava-se de alguns filhos ilustres, já então desaparecidos, cujos nomes eram proclamados, em praça pública, em dias de gáudio cívico. Principalmente os nomes do poeta Plínio de Lima, do tribuno Cezar Zama e do político Joaquim Manoel Rodrigues Lima. Cezar Zama fora um tribuno destacado que no parlamento se media, algumas vezes, com o grande Ruy. Seu livro - "Três Grandes Capitães da Antiguidade" - por muito tempo permaneceu como obra de grande prestígio."  (Flávio Neves, no Capítulo "Valores da minha terra")
Ao caetiteense, vitimado por deturpações da História, promovidas por aqueles que têm interesse na pura confusão e inversão de valores, e ainda os que pura e simplesmente "ouviram dizer", cumpre este resgate. Muito ainda há para ser desvendado, sobre nosso mui rico passado. Mas é mister se corrigir os erros, se desvendar equívocos. Falamos de um homem que inseriu-se na História, como personagem ativo dela, não por erros, mas por acertos. Defendeu a Abolição da escravatura quando este crime era lei, defendeu a República em pleno Império; defendeu a democracia, quando o ditador fechava o Congresso Nacional. Condenou o massacre de Canudos, quando o país exaltava os "vitoriosos" fratricidas...
Exemplo digno, sim, como diz Pedro Celestino. Paradigma, no falar de Marieta Lobão. Motivo de orgulho, é o que diz Flávio Neves.
OBS: Como se pôde notar, a grafia no prenome Cezar é o por nós preferido, apesar das citações que usam a forma "César", o que se deve ao fato de aqueloutra forma ser a utilizada pelo Autor em seus livros.
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DOWN-LOAD:
O Portal de Caetité, num trabalho da Divisão de Cultura do Município, disponibiliza para down-load a obra de Zama - "Libelo Republicano" - clique no link abaixo para fazer o down-load desta obra e salvar em seu computador:
LIBELO REPUBLICANO - Cezar Zama
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