Release
NICODEMA ALVES:
OCASO
Academia Caetiteense de Letras - Caetité - Bahia - 2003
"A poetisa NICODEMA ALVES vem de estrear nas letras nacionais com seu livro de versos: OCASO.
Não se há negar que a beletrista caetiteense, sujo talento honra a Bahia, revela, através da sua poesia, um lirismo espontâneo, terno e evocativo, plasticidade de idéias, um desencatado pessimismo em face da vida, não isento de ironia e ceticismo, que não desapontam, contudo, os leitores, pois tudo que escreve e descreve é emoldurado na brilhante e colorida paisagem de nossa natureza tropical."
                                           
João Guimarães Filho
SER BOM
Alguns anos presa ao leito do sofrimento.
Como pode ser bom quem chora na prisão,
Quem mendiga um carinho, um pouco de afeição?
Como pode um cativo exercer a caridade?
Não pode demonstrar, mesmo o intente, a bondade!

Mesmo que fosse um Justo, um paladino, um santo,
Como a chaga curar? Como secar o pranto?
Como sorrir à infância, ao cego dar a mão,
Dar pão para o mendigo, amparo ao ancião?

Sim, é fácil ser bom, mas não no cativeiro!
Preso à cela a chorar, sorrir ao carcereiro?
Dizer palavras que se envolvam de ternura?
Oh! Como falas bem! Não vês essa amargura...

Como o amor demonstrar, a bondade expandir,
Espalhando o sorriso, a vida colorir,
Quem vive ao desamparo, a definhar, sozinho?
Impossível ser flor, só pode ser espinho!
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Nicodema Alves
Biografia e Obra
Biografia por Margarete de Carvalho (graduada em Letras pela UFBA) e Ívia Alves
Nicodema (Anísia de Souza) Alves nasceu em 15 de setembro de 1900 na cidade de Caetité, filha de Vicente Custodio de Souza e de Maria Anísia de Souza. Em Caetité passou toda a sua infância e adolescência no sítio da família.
Com a morte de sua mãe, ainda muito jovem ficou responsável pela educação de seus dois irmãos mais novos. Mais tarde, aos 21 anos casou-se com Avelino Domingues Alves, comerciante conceituado da região, com quem  teve sete filhos.
Até então, suas viagens para Salvador se davam pela necessidade de tratamento médico, pois a escritora sofria de uma séria bronquite asmática, seqüela adquirida na juventude quando esteve refugiada por vários dias com os moradores locais em um acampamento improvisado, enquanto o cangaceiro Lampião e seu grupo ocupavam e saqueavam a região. Mais tarde a doença se agravou, e na idade madura transformou-se em  enfisema pulmonar.
Desde jovem teve diversas atuações na sua cidade, foi professora primária da escola da Paróquia, atuou politicamente a favor de seu município, tornando-se líder política do Partido Liberal e intervindo junto às autoridades locais para melhorias, bem como, também, foi responsável pela formação da Filarmônica que tomou o nome de "Iracema". Dessa maneira, Nicodema Alves foi uma pessoa muito conhecida e admirada em Caiteté.
Preocupada com a instrução dos filhos mudou-se, definitivamente, para a cidade de Salvador, onde realizou um curso de alta costura  em um ateliê de estilo francês, dirigido por Madame Lamartine, vindo mais tarde a montar o seu próprio ateliê.
A escritora sempre se dedicou à leitura, atividade que realizava, quando pequena, às escondidas. A sua vasta leitura foi iniciada a partir do contato com a sua professora primária, Jovina Trindade, que a influenciou bastante na leitura de diversos autores ao abrir sua biblioteca particular à jovem.
Ainda adolescente, Nicodema Alves iniciou escrevendo versos e experimentou  outros gêneros. Segundo depoimento de sua família, tem-se notícia que a poetisa colaborou em alguns jornais de Caetité, material que ainda se encontra disperso ou perdido, por falta de exemplares nos acervos das bibliotecas.
 Nicodema Alves só veio a publicar um livro de versos, intitulado Ocaso (1966), já no fim da vida, porém, não teve a alegria de ver o seu lançamento que ocorreu um ano após a sua morte que se deu em 1967. Neste livro de poemas, ela reúne composições selecionadas por ela e por seus amigos poetas.
Além de Ocaso, a escritora, conforme depoimento de sua filha, Avany Alves, deixou uma grande quantidade de poemas e textos de outros gêneros que ainda se encontram inéditos
Nicodema Alves  faleceu em Salvador em 26 de maio de 1967.
capa de Ocaso
Lançado em 1966, em Salvador, pela Fundação Gonçalo Muniz, "OCASO" reúne os poemas da escritora caetiteense. Transcrevemos aqui alguns dos comentários prefaciadores desta obra, dentre os quais o do saudoso professor da Faculdade de Direito da UFBA, Sylvio Santos Faria:
"Poente no Céu... Ocaso na vida...
Na quadra em que nos abeiramos das realidades que a visão anterior nos empolgou em tempos idos, em quadras pretéritas, foi que a poetisa NICODEMA ALVES veio dar-nos à visão deslumbrada, rendida à inteligência, o seu livro de versos - OCASO.
Ela veio comprovar que o talento não envelhece, que o veio, a catra do cérebro traz, ao de sempre, aos garimpeiros do ideal, riquezas fabulosas que abateia do sonho recolhe dos garimpos fecundos.
Bem haja quem, já nessa quadra da vida, faz vibrar as centelhas da inteligência, para a revelação dos sonhos já sonhados que amealhou e, somente agora, os exibe em páginas reveladoras de emotividade e beleza."
                                           
Eliézer Benevides
""Ocaso", livro de versos, da autoria da poetiza Nicodema Alves, a bem dizer, não é um livro de estréia. De há muito a sua poesia conheceu o calor e a luz do sol através do privilégio dos que integram o seu vasto círculo de relações e podem se deliciar com a leitura de seus versos. Nessa condição, sem qualquer outra autoridade, venho testemunhar, a par da excelência da forma e do conteúdo, a madureza dos motivos.
Embora variando de temas, uns de inspiração naturalística, outros de profunda abstração, em todos os versos encontra-se presente a projeção de uma sensibilidade artística, que o sofrimento somente fez exasperar.
A Autora, por entre a moldura de seu quarto, divisa, por força essa sensibilidade fora do comum, uma paisagem humana, que passa despercebida a quase todos nós. A tônica da poesia, que analisamos, é o sofrimento, mesmo quando ele se manifesta pelo contraste entre o esplendor naturalístico do ambiente, que inspira o verso, e a condição humana da sua criadora.
Há em "Ocaso" um conteúdo lírico, que toca profundamente as almas bem formadas, provocando a emoção nos que dedicam à Autora sincera amizade."
                                           
Salvador, agosto de 1966
                                            Sylvio Santos Faria
capa de Ocaso
capa de Ocaso
capa de Ocaso
CAETITÉ
capa de Ocaso
Já se finda a madrugada!
Pela insônia torturada,
"Vou cantar a minha terra
E as riquezas que ela encerra!"
Caetité tradicional,
És tu meu berço natal!
Tens passado glorioso,
Que fez teu nome famoso,
Foste princesa adorada,
pela fama bafejada,
Porém, cidade querida,
Vives tão longe, escondida...
Tu guardas nos teus rincões
O ouro todo dos sertões!
Daria pra libertar
Todo o Brasil secular!
Nas areias dos teus rios,
Como a lançar desafios
A quem o queira ir buscar,
Na bateia o peneirar!
Na raiz das tuas gramas
Quais fios de filigranas,
Se o sertanejo as capina,
Ele descobre uma mina!
E os veios grossos que encerras
No seio das tuas serrras?
Minérios em profusão,
Tens debaixo do teu chão!
Tu vives, princesa amada,
Entre as serras debruçada,
Ouvindo o vento cantar,
Entre as palmas estalar,
Na profusão dos coqueiros
Que se contam aos milheiros!
Minha cidade bonita,
Mesmo antiga, és tão catita!
No pensamento a rever,
A saudade faz doer!
Recordo as manhãs brumosas,
Onde neves vaporosas
Levantam de tuas fontes,
Cobrem o cimo dos montes!
Tu foste o berço natal
De César Zama imortal!
Plínio de Lima e João Gumes
Foram chispas dos teus lumes!
Aquele grande poeta
Teve lirismo de esteta!
Anísio, Rodrigues Lima
Nomes que a fama sublima,
E muitos nomes famosos
De filhos teus, valorosos!
No teu seio, sepultados
Estão meus pais muito amados,
Meus irmãos muito queridos,
Jamais serão esquecidos!
Adeus, cidade bonita,
Ó terra minha, bendita!
Com teu passado de glória,
Estás na minha memória
Embora eu viva distante,
Jamais te esqueço um instante,
Tudo o que é teu rememoro,
Ó mater que eu tanto adoro!
capa de Ocaso
capa de Ocaso
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